sexta-feira, 11 de janeiro de 2013

Apitei: o dia em que até o irmão de Dacildo Mourão xingou a mãe do juiz

Não era só uma decisão de turno. Era um Clássico-Rei. O Fortaleza perdia por 1 a 0 em 15 de abril de 1996. A bola foi alçada na pequena área, e Aloísio, jogador do Leão, subiu sozinho para cabecear e iniciar a reação de sua equipe. No entanto, o assistente levantou a bandeira, assinalando impedimento, e o árbitro da partida, Dacildo Mourão, acabou anulando o lance (relembre no vídeo).

Naquele instante, ao ver o gol tricolor ir por água abaixo, o então técnico do Fortaleza, Newton Albuquerque, irmão de Dacildo, invadiu o campo de jogo para xingar o árbitro. Num impulso, ofendeu a mãe do apitador - que, naturalmente, era a mesma do próprio treinador.

- Meu irmão invadiu o campo e me chamou de filho da p.... Daí eu disse pra ele que a mãe era a mesma (risos) - lembra Dacildo.

Dacildo Mourão e seus assistentes antes de Ceará x Fortaleza de 1996 (Foto: André Lima/Agência Diário)Dacildo Mourão e assistentes antes do clássico de
1996 (Foto: André Lima/Agência Diário)

Foi uma confusão. O presidente do Fortaleza, Francisco de Souza Filho, também invadiu o campo. Queria bater no auxiliar. Até correu atrás dele - que se defendeu de um pontapé usando a própria bandeira.

Mas o jogo seguiu. O Fortaleza, de pênalti, empatou a partida, e o Ceará depois fez mais um. O 2 a 1 a favor do Vozão era o troco para a vitória de mesmo placar do Tricolor na primeira partida. Com isso, o jogo foi à prorrogação. No tempo extra, o Fortaleza voltou a ficar perto do título, com outro gol de pênalti, mas o Ceará empatou a partida com um gol salvador de Sérgio Alves. A disputa foi aos pênaltis, e o Vozão se sagrou campeão do turno - depois, conquistou o Estadual. O jogo marcou a história do futebol cearense e a memória do árbitro da partida.

- Dificilmente o árbitro vai divergir do bandeirinha. A marcação do impedimento é do bandeira, daí eu só segui a regra. Foi um lance polêmico e engraçado - afirma.

Dacildo lembra que, depois do jogo, quando Newton voltou para casa, levou uma bronca da mãe pelos xingamentos feitos no campo.

Ceará x Fortaleza pelo Campeonato Cearense de 1996 (Foto: Stênio Saraiva/Agência Diário)Nos pênaltis, o Ceará levou a melhor sobre o Fortaleza e venceu o turno (Foto: Stênio Saraiva/Agência Diário)


Outra polêmica

Antes de ser ábitro, Dacildo tentou atuar como jogador, mas percebeu ser com o apito que poderia se destacar no futebol. Ele relata que sempre se interessou pela profissão. Começou a carreira aos 20 anos, mas aos 14 já havia ingressado no mundo da arbitragem.

Dacildo Mourão apitou seu primeiro clássico regional, Ceará x Ferroviário, aos 21 anos. Teria uma carreira longa. E marcante. Também ficou famoso por uma polêmica em 1997, na Série A do Campeonato Brasileiro, em jogo entre América-RN e Vasco e Natal. O atacante Edmundo já havia levado o primeiro cartão amarelo na partida. Em outro lance, puxou o adversário pela camisa, o que lhe rendeu a segunda advertência e, consequentemente, a expulsão. Na saída de campo, o "Animal" atacou o juiz com palavras (relembre no vídeo).

- Ele disse assim: "Como que vem jogar na Paraíba e colocam um paraíba para apitar?" - recorda.

Dacildo, que é cearense, preferiu não entrar com processo contra o jogador por racismo. Ele conta que apitou novamente um jogo do Vasco pouco tempo depois da confusão. Na ocasião, cumprimentou Edmundo, como se nada tivesse acontecido.

- Passou, pronto. Depois que o árbitro apita, acaba. São coisas do futebol - explicou.

Atualmente, Dacildo Mourão é representante comercial, no estado do Ceará, de uma empresa que comercializa instalações e faz montagens elétricas. Além disso, continua atuando no futebol. O ex-árbitro da Fifa é membro da diretoria da Ligaffi (Liga de Árbitros de Futebol) e organiza torneios esportivos por todo o Estado.

Dacildo diz que não há mais árbitros "natos". Para ele, "basta saber correr para apitar". Sobre o advento da tecnologia ao futebol, é enfático:

- Sou contra. Quanto mais se usa, mais piora a arbitragem. Quem tem de decidir é o juiz, sozinho. O vigia lá de trás (da trave), por exemplo, não serve de nada. Ficam agora com um negócio no ouvido que não serve de nada! - conclui.

Francisco Dacildo Mourão ex-árbitro 1997 (Foto: Iivo Gonzalez / O Globo)Dacildo Mourão e Edmundo se reencontram após polêmica (Foto: Iivo Gonzalez / O Globo)



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